
No Monte Tabor, casa de encontros, que tem a vista para a baía do Guajará, formada pelo encontro dos rios Guamá e Acará e que banha a capital paraense, Belém; bispos, padres, diáconos, religiosos, religiosas, assessores, e lideranças pastorais da Conferência Episcopal dos Bispos do Brasil, dos Regionais: Norte 1 (Norte do Amazona e Roraima), Norte 2 (Pará e Amapá), Norte 3 (Tocantins), Nordeste 5 (Maranhão), Oeste 2 (Mato Grosso) e Noroeste (Acre, sul do Amazonas e Rondônia) se reuniram para o II Encontro da Igreja Católica na Amazônia Legal e o Encontro das Igrejas-Irmãs entre os dias 14 a 18 de novembro de 2016.
O encontro contou com as presenças de dom Pedro Barreto, arcebispo de Ruancayo-Peru, vice-presidente da Rede Eclesial Panamazônica (REPAM) e enlace entre o Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM) e REPAM, dom Leonardo Ulrich Steiner, Secretário-Geral da CNBB, de padre Alfredo Ferro, do Comitê Central da REPAM, Klemens Paffhausen representante da Adveniat – Alemanha e da jornalista Cristiane Murray, da Rádio Vaticana.
Enlaçados pelos mesmos desafios, inquietudes e esperanças os participantes percorreram um caminho de análise, debate e definições de prioridades a fim de fortalecer a comunhão eclesial e o compromisso missionário na Amazônia. Sob o manto da Virgem peregrina de Nazaré, depositou-se todos os anseios e esperanças, em uma simbólica procissão de entronização da imagem na sala de reuniões na abertura do encontro.
Na sessão de abertura, dom Leonardo Ulrich Steiner, leu a mensagem de dom Sergio Cardeal Rocha, presidente da CNBB e arcebispo de Brasília, saudando e incentivando os participantes à partilha e busca de caminhos para a Igreja na Amazônia. Dom Cláudio Cardeal Hummes, presidente da Comissão Episcopal para Amazônia participou, por meio de vídeo-mensagem, reforçando o desejo do papa Francisco, de que se apresente propostas corajosas para o trabalho da Igreja na Amazônia, especialmente com as comunidades indígenas, ribeirinhas, quilombolas e nas grandes cidades, para a superação da crise ecológica e o cuidado com a casa comum, citando Laurente Fabius, ministro dos Negócios Estrangeiros da França que coordenou da COP21: “Lembro que mais tarde, tarde demais”, no que se refere a adiar para mais tarde as decisões necessárias e as ações eficazes para frear o processo de aquecimento global e de degradação do Planeta.
O Cardeal Hummes sublinha que se nada for feito: “As gerações futuras não terão mais à disposição um Planeta viável, saudável, bonito e sustentável”, e lembra que nesse contexto, o papa Francisco interpela a Igreja para não permanecer indiferente ou ausente: “Ela precisa se envolver, porque toda esta crise não tem apenas aspectos sócio-econômicos, políticos, culturais, mas tem também uma dimensão religiosa e ética”. Hummes recordou a frase do Papa: “A Amazônia é um teste decisivo, um banco de prova para a Igreja e a sociedade brasileira”.
O cardeal lembrou o documento Evangelii Gaudium, em afirmar ser necessário “avançar no caminho duma conversão pastoral e missionária, que não pode deixar as coisas como estão” (n.25). “Mais vezes o Papa disse que não devemos ter medo do novo. No Rio de Janeiro, quando se reuniu com os bispos brasileiros, falou da missão da Igreja na Amazônia e terminou dizendo: ‘Sobre isso, peço, por favor, para serem corajosos, para terem ousadia’ e depois, em particular, disse a mim e a outros que na Amazônia devemos saber ‘arriscar, porque se não arriscarmos já estamos errados’”, enfatizou dom Claudio.
Ver a realidade – No decorrer do encontro foi realizado a memória dos Encontros da Igreja Católica na Amazônia Legal, bem como a análise de conjuntura social e política entre os modelos existentes na região: o socioambiental e o predatório. A análise da conjuntura religiosa e a
história da Igreja na Amazônia, considerando os diversos períodos que contribuíram para a definição do rosto da Igreja na Amazônia, também foi pauta de reflexão no encontro.
A REPAM também teve espaço no encontro e foi apresentada como fruto de um processo de amadurecimento eclesial sobre a urgência unir forças e criar caminhos de diálogo, cooperação, articulação e laços de fraternidade entre todos os atores eclesiais presentes na região, dando forma ao sonho de uma Igreja em comunhão na Pan-Amazônia.
Após momentos de partilha, reflexão e síntese dos trabalhos, a assembleia definiu as prioridades para nortear os compromissos da Igreja na Amazônia são eles: Atenção e incentivo à demarcação e proteção de terras indígenas, quilombolas e defesa de seus direitos; formação de ministros e ministras instituídos para o pastoreio em cada comunidade; Escola de Fé, Política e ecologia para a formação de lideranças, a partir de uma espiritualidade encarnada e da ecologia integral e, por fim, relançar o programa comunidade de comunidades missionárias.
Igrejas-Irmãs – E assim se concluiu o II Encontro da Igreja da Amazônia Legal e se iniciou o Encontro das Igrejas-irmãs da CNBB. O Igreja-irmãs, nascido em 1973, propõe ‘adoção’, entre dioceses, especialmente com envio de missionários e ajuda finaneceira. Este intercâmbio de experiência de vida cristã, torna-se uma ajuda fundamental para que o povo da Amazônia seja melhor assistido e evangelizado pela Igreja, sugere o Projeto.
Padre Jaime Luiz Gusberti, da diocese de Caxias (RS) , Igreja-irmã da arquidiocese de Porto Velho (RO), conta sua experiência: “Ser missionário na Amazônia é deixar-se guiar pelo Espírito de Deus, Ele é o protagonista e nos impulsiona para a missão. Padre Jaime diz que não precisa levar muita coisa para a missão, somente o desejo de servir. “Assim como fez Jesus: servir e não ser servido. E quando se chega em missão a primeira coisa e escutar o povo, conhecer o povo, sua cultura, tomar conhecimento do Plano de Pastoral da Diocese. É preciso chegar, não como alguém que quer ensinar, mandar, mas colocar o pé no chão e se dispor a viver e sofrer como o povo, se alegrar com ele. Sobretudo, nas pequenas conquistas. Ser missionário é ouvir, organizar e enviar o povo, também, em missão. É gastar a vida, se colocar para ajudar.
Maria Soares de Camargo, leiga missionária de Campinas (SP), há seis anos na diocese de São Gabriel da Cachoeira (AM), enviada pelo projeto dos regionais Sul 1 e Norte 1 da CNBB, relata sua experiência de catequese inculturada junto ao povo tukano. “Nossa proposta foi de trabalhar a Boa-Nova da cultura indígena que acolhe a Boa-Nova de Jesus. Eles, os indígenas, iam contanto os grandes temas da vida cotidiana e fazíamos um paralelo com as narrativas Bíblicas. Eles ficavam tão felizes em perceber a história da salvação na vida do povo tukano. Seguimos esse caminho para não desconectar a fé da vida desse povo”, conta Maria que aderiu ao projeto Igrejas-Irmãs, quando se aposentou. O porjeto trouxe uma perspectiva nova em sua vida, após anos na academia, como professora universitária e pesquisadora.